A sociedade, hoje, vive uma carência emocional coletiva muito evidente. Em meio a tanta conectividade tecnológica, estamos cada vez mais desconectados uns dos outros em um sentido mais humano e empático. A necessidade de ser visto, ouvido e validado cresce, enquanto a disposição para oferecer isso ao outro diminui.
Muita gente fala, mas poucos
realmente escutam. Escutar de verdade — com atenção, sem julgar, sem pensar na
resposta enquanto o outro ainda fala — virou quase uma habilidade rara. A
maioria quer expor sua dor, sua opinião, sua versão, mas não tem o mesmo
interesse em acolher o que o outro tem a dizer. E isso vai alimentando uma
cadeia de relações rasas, onde as pessoas se sentem solitárias mesmo rodeadas
de gente.
Essa carência também faz com
que muitos se apeguem a curtidas, visualizações, e a uma presença digital que,
muitas vezes, não tem correspondência na vida real. A conversa olho no olho
perde espaço para os monólogos nas redes sociais.
No fundo, todo mundo está
gritando por atenção — só que ninguém para pra escutar o grito do outro.
Vivemos uma era marcada pelo ruído — não o som
dos trovões ou das multidões, mas o ruído da necessidade. A necessidade de ser
ouvido, de ser validado, de ser alguém diante dos olhos do outro. E,
paradoxalmente, essa ânsia por comunicação tem revelado não a plenitude das
relações humanas, mas o seu esvaziamento.
A carência que paira sobre a sociedade moderna
não é apenas afetiva; é existencial. Ela se manifesta na pressa com que falamos
de nós, nas legendas cuidadosamente pensadas, nos discursos ensaiados diante de
espelhos invisíveis. Falar tornou-se mais do que um ato de expressão — virou um
escudo contra o silêncio interno. Porque o silêncio, esse grande espelho da
alma, nos confronta com o que não queremos ver: a solidão essencial de cada
ser.
Ouvir exige um tipo de coragem que poucos
cultivam. É necessário esvaziar-se para acolher o outro. E em tempos onde todos
estão cheios de si, ouvir é um gesto quase revolucionário. Nietzsche já dizia
que "os grandes acontecimentos não são os que fazem mais ruído, mas os
que, em silêncio, transformam o mundo". Ouvir é um desses acontecimentos.
A falta de escuta revela algo mais grave: a
crise da empatia. Não escutamos porque não queremos ceder espaço. Temos medo de
que, ao dar ouvidos ao outro, percamos o pouco de identidade que construímos a
duras penas — muitas vezes, sobre os escombros da incompreensão.
Na filosofia antiga, o diálogo era um caminho
para a verdade. Mas não um diálogo feito de falas interrompidas ou disputas de
ego. Era um diálogo atento, onde se pensava junto. Hoje, porém, fala-se muito
para vencer — e quase nada para entender.
Assim, seguimos: conectados em redes, mas
desconectados em alma. Cercados de vozes, mas carentes de escuta.
A sociedade
moderna parece ecoar uma só pergunta, silenciosa e desesperada:
"Alguém me
ouve?"
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