sexta-feira, 9 de maio de 2025

A SOCIEDADE ESTÁ CARENTE


 
A sociedade, hoje, vive uma carência emocional coletiva muito evidente. Em meio a tanta conectividade tecnológica, estamos cada vez mais desconectados uns dos outros em um sentido mais humano e empático. A necessidade de ser visto, ouvido e validado cresce, enquanto a disposição para oferecer isso ao outro diminui.


Muita gente fala, mas poucos realmente escutam. Escutar de verdade — com atenção, sem julgar, sem pensar na resposta enquanto o outro ainda fala — virou quase uma habilidade rara. A maioria quer expor sua dor, sua opinião, sua versão, mas não tem o mesmo interesse em acolher o que o outro tem a dizer. E isso vai alimentando uma cadeia de relações rasas, onde as pessoas se sentem solitárias mesmo rodeadas de gente.

Essa carência também faz com que muitos se apeguem a curtidas, visualizações, e a uma presença digital que, muitas vezes, não tem correspondência na vida real. A conversa olho no olho perde espaço para os monólogos nas redes sociais.


No fundo, todo mundo está gritando por atenção — só que ninguém para pra escutar o grito do outro.

Vivemos uma era marcada pelo ruído — não o som dos trovões ou das multidões, mas o ruído da necessidade. A necessidade de ser ouvido, de ser validado, de ser alguém diante dos olhos do outro. E, paradoxalmente, essa ânsia por comunicação tem revelado não a plenitude das relações humanas, mas o seu esvaziamento.

A carência que paira sobre a sociedade moderna não é apenas afetiva; é existencial. Ela se manifesta na pressa com que falamos de nós, nas legendas cuidadosamente pensadas, nos discursos ensaiados diante de espelhos invisíveis. Falar tornou-se mais do que um ato de expressão — virou um escudo contra o silêncio interno. Porque o silêncio, esse grande espelho da alma, nos confronta com o que não queremos ver: a solidão essencial de cada ser.

Ouvir exige um tipo de coragem que poucos cultivam. É necessário esvaziar-se para acolher o outro. E em tempos onde todos estão cheios de si, ouvir é um gesto quase revolucionário. Nietzsche já dizia que "os grandes acontecimentos não são os que fazem mais ruído, mas os que, em silêncio, transformam o mundo". Ouvir é um desses acontecimentos.

A falta de escuta revela algo mais grave: a crise da empatia. Não escutamos porque não queremos ceder espaço. Temos medo de que, ao dar ouvidos ao outro, percamos o pouco de identidade que construímos a duras penas — muitas vezes, sobre os escombros da incompreensão.

Na filosofia antiga, o diálogo era um caminho para a verdade. Mas não um diálogo feito de falas interrompidas ou disputas de ego. Era um diálogo atento, onde se pensava junto. Hoje, porém, fala-se muito para vencer — e quase nada para entender.

Assim, seguimos: conectados em redes, mas desconectados em alma. Cercados de vozes, mas carentes de escuta.

A sociedade moderna parece ecoar uma só pergunta, silenciosa e desesperada:

"Alguém me ouve?"

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