terça-feira, 20 de maio de 2025




"Você não está à procura de um propósito.

Está à procura de uma desculpa para sua mediocridade parecer aceitável."


Vivemos em uma era em que "propósito" virou palavra de ordem. Todos parecem em busca de um motivo elevado para justificar suas escolhas, ou a falta delas. Mas, muitas vezes, essa busca é apenas uma cortina de fumaça — uma forma sofisticada de adiar, de se esquivar da responsabilidade, de suavizar o desconforto de uma vida que não está sendo plenamente vivida.

A verdade é dura: nem sempre estamos atrás de um propósito verdadeiro. Às vezes, estamos apenas tentando encontrar uma desculpa bonita para acomodar nossa apatia, para justificar por que não arriscamos, não tentamos, não evoluímos. Chamamos isso de "autoconhecimento", "fase de transição", "esperando o momento certo" — mas tudo isso pode ser apenas disfarce para o medo, a preguiça ou a conivência com a mediocridade.

É mais fácil dizer que ainda não encontramos nosso propósito do que admitir que temos medo de fracassar tentando. É mais confortável alegar que "ainda estamos nos descobrindo" do que enfrentar o peso de nossas próprias decisões malfeitas ou da falta de ação. É um mecanismo humano, sim — mas também é uma prisão.

O incômodo que sentimos ao ouvir uma frase como essa vem porque, no fundo, ela toca uma ferida que evitamos olhar. Ela revela que talvez estejamos mais preocupados em parecer estar em busca do que realmente buscar. Que nossa inércia se veste de reflexão, quando, na verdade, é só paralisia com nome chique.

Enfrentar isso é doloroso, mas libertador. Admitir que estamos sendo medíocres não é o fim — é o início da honestidade. E só com honestidade podemos construir algo que vá além das desculpas.

Você quer um propósito? Então pare de buscá-lo como se ele fosse cair do céu. Comece a agir. Teste, erre, corrija. Propósito não se acha — se constrói, com esforço, coragem e responsabilidade.

Talvez, no fim, o que você precise não é de um propósito, mas de coragem para parar de se esconder atrás dele.

quarta-feira, 14 de maio de 2025

 

Eu sou o único que pode escolher meu passado

 

A gente vive em uma cultura que é obcecada pelo futuro.
Então desde sempre me ensinaram a planejar o que eu faria, o que eu ia ser, o que eu iria conquistar.
Pensando sempre em metas , projeções, cenários muito loucos que eu criei na minha própria cabeça dentro do meu quarto ouvindo Pearl Jam.
Então o futuro se tornou minha principal esperança, e como efeito colateral, obviamente pensar tanto no futuro também me traz uma bela ansiedade.

Mas, refletindo sobre tudo isso, tem uma coisa que eu acredito que tenha muito mais poder do que eu imaginava, que é o PASSADO.

Sim meus amigos, ele mesmo, o passado!
Aquele lugar onde supostamente, nada mais pode ser tocado, aquele espaço fechado, engessado, um filme que já passou e agora eu só posso assistir.

Mas e se todo esse tempo eu estivesse errado? E se o passado for menos sobre o que aconteceu, e mais sobre como eu escolho lembrar dele?
Se ele não fosse uma sentença, mas uma escolha?


Obviamente a minha memória não é uma ciência exata. Ela não vai arquivar dados, ela só vai contar uma historia.
E como toda história que é boa, ela vai ter seus cortes, edições, interpretações. Aquilo que eu me lembro hoje como um trauma, talvez daqui a uns anos, eu enxergue como um ponto de virada na vida. Então aquela dor lá de tras, amanhã pode virar uma ponte para a coragem que eu vou ter amanhã, sacou?

 A memoria é plástica, ela se molda, é reconstrutiva. Toda que vez que eu acesso uma lembrança, eu não tô só relembrando, eu tô regravando essa lembrança.
Como se eu tivesse editando um vídeo antigo e salvando uma versão nova sobre ele.

E talvez, TALVEZ, daí que surja essa verdade:

Eu sou o único que pode escolher meu passado.


Claro que eu não posso escolher os fatos, porque esses realmente já foram. Mas agora eu posso escolher o significado que eles vão ter na minha historia.

Tem gente que vive presa no passado, tem pessoas que se definem pelos erros que tiveram, por todas as dores que já passaram, pelas injustiças que sofreram.
Mas quando eu deixo o passado definir a minha identidade de forma definitiva, eu dou a ele um poder que ele não deveria ter.

Eu me sentir vitima do que passou é totalmente compreensível, mas escolher continuar vitima, ainda que inconsciente, não é compreensível.
Então eu precisodeixar isso pra tras e começar a me ver como realmente autor da minha própria identidade.

Eu preciso olhar para tras e pensar:

O QUE EU POSSO APRENDER DISSO?
COMO EU POSSO TRANSFORMAR ESSA DOR EM SABEDORIA?
O QUE ISSO ME ENSINOU SOBRE A VIDA, SOBRE LIMITES, SOBRE MIM?

Eu preciso reescrever esse passado entendendo que eu não estou negando o que aconteceu, mas sim negando que isso continue me paralisando.

Então eu comecei a pensar que a gente é treinado a pensar que a liberdade está no que a gente vai fazer daqui para frente.

Mas pensa comigo, talvez a liberdade seja mais profunda que isso, que é toda essa ideia maluca aqui, que é dar um novo sentido para aquilo que já aconteceu.

Então escolher o meu passado, reinterpretando ele, é uma forma de me colocar no poder de novo. É tipo a minha revolução silenciosa, comigo mesmo.

Quando eu ressignifico a minha história, eu tento transformar aquela merda toda que passou em uma coisa boa.
As vezes funciona? As vezes funciona. As vezes não funciona? As vezes não funciona.

Obvio que tem memorias que vão me doer, você vai ter feridas que você ainda vai sentir como se estivessem abertas, muitas vezes uma ausência que te marcou demais, nada disso vai ser apagado.

 Mas eu vou passar a olhar essa parada toda com novos olhos. E ai eu vou mudar o nome dessa bosta de ferida e vou colocar o nome que eu quiser, eu posso até chamar de proposito.

Meio coach né, mas você entendeu o que eu to falando.


Então quem escreve a minha história? Sou eu ou todas as merdas que eu vivi lá atras? (LA ELE MIL VEZES)

Por que enquanto eu estiver acreditando que meu passado não vai mudar, eu vou continuar dando a ele esse poder que ele não pode ter, e eu vou viver sempre nessa sombra.
Mas a partir do momento que eu percebo que eu posso reinterpretar isso... aiii meu amigo, ai o bicho pega, deixei de ser personagem desse filme.

É ai onde tudo muda.

Você pode escolher se você foi fraco ou se você resistiu, se você foi abandonado ou foi onde você aprendeu a se sustentar.
Você pode escolher o passado que você errou para caramba, ou se foi o passado onde você começou a crescer.

Como quase tudo na vida, toda essa reflexão e esses pensamentos, eles são uma escolha diária, é um exercício, toda vez que eu me pego pensando nisso, no passado, eu reescrevo a parada, reprogramo o significado dela.

O passado não mudou, mas eu mudei.
E por que eu mudei, tudo que veio antes também vai se transformar em algo novo.

Então é isso... eu sou o único que pode escolher meu passado.

sexta-feira, 9 de maio de 2025

A SOCIEDADE ESTÁ CARENTE


 
A sociedade, hoje, vive uma carência emocional coletiva muito evidente. Em meio a tanta conectividade tecnológica, estamos cada vez mais desconectados uns dos outros em um sentido mais humano e empático. A necessidade de ser visto, ouvido e validado cresce, enquanto a disposição para oferecer isso ao outro diminui.


Muita gente fala, mas poucos realmente escutam. Escutar de verdade — com atenção, sem julgar, sem pensar na resposta enquanto o outro ainda fala — virou quase uma habilidade rara. A maioria quer expor sua dor, sua opinião, sua versão, mas não tem o mesmo interesse em acolher o que o outro tem a dizer. E isso vai alimentando uma cadeia de relações rasas, onde as pessoas se sentem solitárias mesmo rodeadas de gente.

Essa carência também faz com que muitos se apeguem a curtidas, visualizações, e a uma presença digital que, muitas vezes, não tem correspondência na vida real. A conversa olho no olho perde espaço para os monólogos nas redes sociais.


No fundo, todo mundo está gritando por atenção — só que ninguém para pra escutar o grito do outro.

Vivemos uma era marcada pelo ruído — não o som dos trovões ou das multidões, mas o ruído da necessidade. A necessidade de ser ouvido, de ser validado, de ser alguém diante dos olhos do outro. E, paradoxalmente, essa ânsia por comunicação tem revelado não a plenitude das relações humanas, mas o seu esvaziamento.

A carência que paira sobre a sociedade moderna não é apenas afetiva; é existencial. Ela se manifesta na pressa com que falamos de nós, nas legendas cuidadosamente pensadas, nos discursos ensaiados diante de espelhos invisíveis. Falar tornou-se mais do que um ato de expressão — virou um escudo contra o silêncio interno. Porque o silêncio, esse grande espelho da alma, nos confronta com o que não queremos ver: a solidão essencial de cada ser.

Ouvir exige um tipo de coragem que poucos cultivam. É necessário esvaziar-se para acolher o outro. E em tempos onde todos estão cheios de si, ouvir é um gesto quase revolucionário. Nietzsche já dizia que "os grandes acontecimentos não são os que fazem mais ruído, mas os que, em silêncio, transformam o mundo". Ouvir é um desses acontecimentos.

A falta de escuta revela algo mais grave: a crise da empatia. Não escutamos porque não queremos ceder espaço. Temos medo de que, ao dar ouvidos ao outro, percamos o pouco de identidade que construímos a duras penas — muitas vezes, sobre os escombros da incompreensão.

Na filosofia antiga, o diálogo era um caminho para a verdade. Mas não um diálogo feito de falas interrompidas ou disputas de ego. Era um diálogo atento, onde se pensava junto. Hoje, porém, fala-se muito para vencer — e quase nada para entender.

Assim, seguimos: conectados em redes, mas desconectados em alma. Cercados de vozes, mas carentes de escuta.

A sociedade moderna parece ecoar uma só pergunta, silenciosa e desesperada:

"Alguém me ouve?"