Eu sou o único que pode
escolher meu passado
A gente vive em uma cultura que é obcecada pelo futuro.
Então desde sempre me ensinaram a planejar o que eu faria, o que eu ia ser, o
que eu iria conquistar.
Pensando sempre em metas , projeções, cenários muito loucos que eu criei na
minha própria cabeça dentro do meu quarto ouvindo Pearl Jam.
Então o futuro se tornou minha principal esperança, e como efeito colateral,
obviamente pensar tanto no futuro também me traz uma bela ansiedade.
Mas, refletindo sobre tudo isso, tem uma coisa que eu acredito que tenha
muito mais poder do que eu imaginava, que é o PASSADO.
Sim meus amigos, ele mesmo, o passado!
Aquele lugar onde supostamente, nada
mais pode ser tocado, aquele espaço fechado, engessado, um filme que já passou
e agora eu só posso assistir.
Mas e se todo esse tempo eu estivesse errado? E se o passado for menos sobre o
que aconteceu, e mais sobre como eu escolho lembrar dele?
Se ele não fosse uma
sentença, mas uma escolha?
Obviamente a minha memória não é uma ciência exata. Ela não vai arquivar dados,
ela só vai contar uma historia.
E como toda história que é boa, ela vai ter seus cortes, edições,
interpretações. Aquilo que eu me lembro hoje como um trauma, talvez daqui a uns
anos, eu enxergue como um ponto de virada na vida. Então aquela dor lá de tras,
amanhã pode virar uma ponte para a coragem que eu vou ter amanhã, sacou?
A memoria é plástica, ela se molda, é reconstrutiva. Toda que vez que eu acesso
uma lembrança, eu não tô só relembrando, eu tô regravando essa lembrança.
Como se eu tivesse editando um vídeo antigo e salvando uma versão nova sobre
ele.
E talvez, TALVEZ, daí que surja essa verdade:
Eu sou o único
que pode escolher meu passado.
Claro que eu não posso escolher os fatos, porque esses realmente já foram. Mas
agora eu posso escolher o significado que eles vão ter na minha historia.
Tem gente que vive presa no passado, tem pessoas que se definem pelos erros que
tiveram, por todas as dores que já passaram, pelas injustiças que sofreram.
Mas quando eu deixo o passado definir a minha identidade de forma definitiva,
eu dou a ele um poder que ele não deveria ter.
Eu me sentir vitima do que passou é totalmente compreensível, mas escolher continuar
vitima, ainda que inconsciente, não é compreensível.
Então eu precisodeixar isso pra tras e começar a me ver como realmente autor da
minha própria identidade.
Eu preciso olhar para tras e pensar:
O QUE EU POSSO APRENDER DISSO?
COMO EU
POSSO TRANSFORMAR ESSA DOR EM SABEDORIA?
O QUE ISSO ME ENSINOU SOBRE A VIDA,
SOBRE LIMITES, SOBRE MIM?
Eu preciso reescrever esse passado entendendo que eu não estou negando o que
aconteceu, mas sim negando que isso continue me paralisando.
Então eu comecei a pensar que a gente é treinado a pensar que a liberdade está
no que a gente vai fazer daqui para frente.
Mas pensa comigo, talvez a liberdade seja mais profunda que isso, que é
toda essa ideia maluca aqui, que é dar um novo sentido para aquilo que já
aconteceu.
Então escolher o meu passado, reinterpretando ele, é uma forma de me colocar no
poder de novo. É tipo a minha revolução silenciosa, comigo mesmo.
Quando eu ressignifico a minha história, eu tento transformar aquela merda toda
que passou em uma coisa boa.
As vezes funciona? As vezes funciona. As vezes não
funciona? As vezes não funciona.
Obvio que tem memorias que vão me doer, você vai ter feridas que você ainda vai
sentir como se estivessem abertas, muitas vezes uma ausência que te marcou
demais, nada disso vai ser apagado.
Mas eu vou passar a olhar essa parada toda com novos olhos. E ai eu vou mudar o
nome dessa bosta de ferida e vou colocar o nome que eu quiser, eu posso até
chamar de proposito.
Meio coach né, mas você entendeu o que eu to falando.
Então quem escreve a minha história? Sou eu ou todas as merdas que eu vivi lá
atras? (LA ELE MIL VEZES)
Por que enquanto eu estiver acreditando que meu passado não vai mudar, eu vou
continuar dando a ele esse poder que ele não pode ter, e eu vou viver sempre
nessa sombra.
Mas a partir do momento que eu percebo que eu posso reinterpretar isso... aiii
meu amigo, ai o bicho pega, deixei de ser personagem desse filme.
É ai onde tudo muda.
Você pode escolher se você foi fraco ou se você resistiu, se você foi
abandonado ou foi onde você aprendeu a se sustentar.
Você pode escolher o passado que você errou para caramba, ou se foi o passado
onde você começou a crescer.
Como quase tudo na vida, toda essa reflexão e esses pensamentos, eles são uma
escolha diária, é um exercício, toda vez que eu me pego pensando nisso, no
passado, eu reescrevo a parada, reprogramo o significado dela.
O passado não mudou, mas eu mudei.
E por que eu mudei, tudo que veio antes também vai se transformar em algo novo.
Então é isso... eu sou o único que pode escolher meu passado.